Prova Falsa (Stanislaw Ponte Preta)
Prova Falsa
(Stanislaw Ponte Preta)
Quem teve a idéia foi o padrinho da caçula - ele me conta. Trouxe o cachorro de presente e logo a família inteira se apaixonou pelo bicho. Ele até que não é contra isso de se ter um animalzinho em casa, desde que seja obediente e com um mínimo de educação.
— Mas o cachorro era um chato — desabafou.
Desses cachorrinhos de raça, cheio de nhém-nhém-nhém, que comem comidinha especial, precisam de muitos cuidados, enfim, um chato de galocha. E, como se isto não bastasse, implicava com o dono da casa.
— Vivia de rabo abanando para todo mundo, mas, quando eu entrava em casa, vinha logo com aquele latido fininho e antipático de cachorro de francesa.
Ainda por cima era puxa-saco. Lembrava certos políticos da oposição, que espinafram o ministro, mas quando estão com o ministro ficam mais por baixo que tapete de porão. Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependência da casa, o desgraçado rosnava ameaçador, mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho, fingindo-se seu amigo.
— Quando eu reclamava, dizendo que o cachorro era um cínico, minha mulher brigava comigo, dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu é que implicava com o "pobrezinho".
Num rápido balanço poderia assinalar: o cachorro comeu oito meias suas, roeu a manga de um paletó de casimira inglesa, rasgara diversos livros, não podia ver um pé de sapato que arrastava para locais incríveis.
A vida lá em sua casa estava se tornando insuportável. Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino. Tentou mandá-lo embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianças e uma espinafração da mulher.
— Você é um desalmado — disse ela, uma vez.
Venceu a guerra fria com o cachorro graças à má educação do adversário. O cãozinho começou a fazer pipi onde não devia. Várias vezes exemplado, prosseguiu no feio vício. Fez diversas vezes no tapete da sala. Fez duas na boneca da filha maior. Quatro ou cinco vezes fez nos brinquedos da caçula. E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido novo de sua mulher.
— Aí mandaram o cachorro embora? — perguntei.
— Mandaram. Mas eu fiz questão de dá-lo de presente a um amigo que adora cachorros. Ele está levando um vidão em sua nova residência.
— Ué... mas você não o detestava? Como é que arranjou essa sopa pra ele?
— Problema da consciência — explicou: — O pipi não era dele.
E suspirou cheio de remorso.
Vocabulário
Espinafram – criticam, falam mal
Casimira – tecido de lã, muito produzido na Inglaterra
Desalmado – desumano, cruel
Guerra fria – desentendimento que não chega à violência física
Exemplado – castigado
Culminou – atingiu o ponto máximo
Estudo do Texto
1) Quem narra a história para o leitor?
a) O antigo dono do cachorro.
b) Um amigo do antigo dono do cachorro.
c) O novo dono do cachorro.
2) Quem teve a ideia de dar um cachorro àquela família?
3) Como deveria ser o cachorro para agradar ao dono da casa?
4) O dono da casa compara o cachorro aos políticos da oposição. O que há em comum entre os dois?
5) O dono da casa dizia que o cachorro implicava com ele. A mulher concordava com essa opinião? O que ela dizia sobre isso?
6) A palavra “pobrezinho” aparece entre aspas na linha 19 para indicar:
a) tamanho pequeno b) pobreza c) deboche
7) O homem enumerou várias coisas que o cachorro fez. Cite-as. / Cite três delas
8) Ele tentou mandar o cachorro embora várias vezes, mas não deu certo. Por quê?
10) Por que o título do texto é "Prova Falsa"?
Respostas:
1) Letra B
2) O padrinho do caçula.
3) Obediente e com um mínimo de educação.
4) São puxa-sacos.
5) Não, a mulher dizia que nunca houve cachorro fingido e que ele é que implicava com o pobrezinho.
6) letra C
7) Comeu 8 meias, roeu a manga de um paletó e rasgou diversos livros.
8) Porque as crianças choravam e mulher brigava com ele.
9) Não, porque foi uma armação, o cachorro não tinha culpa, o pipi não era dele.
10) Porque o dono criou uma falsa prova contra o cachorro para mandá-lo embora.
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